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Se és amigo do bem, inutilisa esta cédula

A curiosa frase do título desta postagem, “Se és amigo do bem, inutilisa esta cédula”, aparece em alguns papéis do Hospital de São José de Arcos de Valdevez. O escudo português mostra que é de Portugal. Para entender que papel é esse, é necessário voltar ao período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). 


A Europa em guerra e logo os metais ficaram escassos. Isso prejudicou a cunhagem de moedas em vários países durante e após a guerra. Em Portugal, não foi diferente. A falta de metal trouxe como uma das consequências a falta de moeda e, quando falta moeda em circulação, é um problema sério para o comércio. Ainda mais naquela época que nem se vislumbrava a tecnologia e pagamentos eletrônicos que temos hoje.

E foi aí que começaram a aparecer as famosas cédulas de emergência. Na Alemanha, ganhou o nome de Notgeld e é o caso mais famoso. Mas, em Portugal também tiveram cédulas de emergência nesse período turbulento. Muitas das “notgelds portuguesas” foram impressas por hospitais e santas casas de misericórdia que foram algumas das mais afetadas e desamparadas. Lembrando que Portugal já estava passando por turbulências políticas desde o início do século 20, culminando na queda da monarquia e instauração da república em 1910.

O maior objetivo das santas casas e hospitais imprimirem essas cédulas, era utilizar para financiar obras, manutenções e conseguir suprimentos para o mantimento da instituição de saúde e caridade.

As cédulas de emergência poderiam ser compradas pela população para serem utilizadas no comércio local, em substituição as moedas que estavam em falta. Quando se comprava essas cédulas, estava ajudando aquele hospital, e o dinheiro acabava servindo para financiar os gastos que esses hospitais tinham.

A frase “Se és amigo do bem, inutilisa esta cédula” motivava aos que tinham adquirido essas cédulas, para que eles não a reutilizassem. Desta forma, o valor pago para os hospitais, ao adquirir essas cédulas, serviriam como uma espécie de doação integral daquele valor, já que a cédula de emergência não seria utilizada para trocar por outras cédulas ou mercadorias.

Sabe-se que pelos menos 29 desses hospitais de misericórdia, imprimiram esse tipo de cédulas no período de 1917 a 1925 com valores de centavos, os mesmos valores que carregavam as moedas da época.

 

http://curiosidadesnumismaticas.blogspot.com/2013/10/dinero-de-emergencia-portugues.html?m=1

https://www.ump.pt/Home/patrimonio/noticias/suprir-a-necessidade-local-de-moeda/

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